Sinto-me longe, só isso… é tão básico e tão complicado ao mesmo tempo… mas é a isto que se resume o meu actual estado de apatia…
Não me apetece nada, só o sufoco da solidão a embalar-me num mundo demasiado grande…
Queria ir lá para fora e sentir a chuva escorregar nas curvas do meu rosto durante horas, sem porquês…
Apetece-me sentir o mundo percorrer-me sem entraves, apetece-me beber vida e respirar felicidade, apetece-me simplesmente saltar sem pensar por uma vez… sentir-me dono de mim mesmo, do que quero, do que sou…
Agarrar o sopro com as duas mãos e sentir-me planar no sonhos que alimentam a alma…
Talvez sem querer ou talvez pelo teu olhar de lince perspicaz conseguiste trespassar-me e traduziste-me num fantasma… num tal terror capaz de afugentar um mundo e ser idolatrado por outro… num tudo e nada… num ser vivo depois de morto… numa simples verdade contada através do maior embuste…
Porque será que em ultima instância nos apetece sempre voar? Será essa derradeira conquista da liberdade que todos procuram e nunca encontram?
Esta era a hora em que seria capaz de tudo se alguém me agarrasse pela mão… era esta a hora louca em que faria um piercing bem à vista de todos, a tatuagem no sitio mais provocante sem pensar na dor, a fuga com a roupa no corpo, o salto para o sem fim…É esta aquela hora em que a adrenalina nos possui de tal maneira que somos capazes de gritar até sufocar… aquela irritante hora, em que quando não podemos ser simplesmente o que queremos, os dedos se contorcem numa dor muito estranha que se caracteriza pela vontade de fechar o punho até criar uma dor ainda maior…